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Por Carlos Britto
A jovem Tâmara Alencar gravou seu nome da história do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE) e do Brasil. Este ano, ela se tornou a primeira estudante com Trissomia 21, alteração genética também conhecida como Síndrome de Down, a concluir o curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, ofertado pelo Campus Petrolina Zona Rural.
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Tâmara ingressou no IFSertãoPE no ano de 2020, aprovada no Sisu em primeiro lugar nas cotas para pessoas com deficiência. Em sua trajetória, motivo de orgulho para a família, servidores, colegas, enfrentou inúmeros desafios, como a pandemia de Covid-19, a necessidade de adaptação dos conteúdos e atividades, tanto teóricas como práticas, a distância de sua casa, no município de Juazeiro (BA) até o campus localizado na zona rural de Petrolina, mas sempre com determinação e gana de se formar.
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O foco nos estudos vem de pequena. Maria Crisley Alencar, mãe de Tâmara, diz que ela sabe o que quer. “Sempre dei liberdade de escolhas, desde pequenina”. Segundo Crisley, todo esforço foi da jovem. “Sempre foi um sonho dela cursar uma faculdade e eu confesso que achava quase impossível, mas nunca duvidei da sua fé e da sua capacidade“.
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O dia 18 de fevereiro de 2025 foi um marco em sua vida, quando apresentou o Trabalho de Conclusão de Curso, sendo aprovada. Tâmara agora espera a colação de grau, que acontece ainda neste semestre, para, enfim, empunhar seu diploma de tecnóloga em Viticultura e Enologia. “Só tenho a agradecer mesmo, uma felicidade“, declarou a estudante.
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Inclusão
A professora Elis Nogueira era a coordenadora do curso de Viticultura e Enologia quando Tâmara Alencar começou a frequentar a instituição. Para ela é um orgulho vê-la conquistando a formação como tecnóloga.
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“Não só eu, acho que todo mundo se sente muito orgulhoso de ver onde Tâmara chegou e nós também, porque conseguimos fazer sua inclusão. Ela não estava simplesmente na sala de aula, a gente fez com que ela aprendesse na sala de aula. A gente conseguiu incluí-la dentro do estudo e isso é um orgulho, é prazeroso ver o desenvolvimento dela e o potencial que tem e onde consegue chegar. A gente foi, durante esse percurso, entendendo a limitação dela e mostrando que ela conseguia um pouco mais, sempre respeitando seu espaço“, afirmou.
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A trajetória, no entanto, foi desafiadora. Os professores precisaram de formação e orientação no sentido de conseguir adaptar as atividades e assim incluir Tâmara de modo que ela conseguisse ter acesso pleno aos conteúdos previstos. Para isso, a estudante e os professores contaram com o apoio do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne), que direcionou o processo com a oferta de capacitações para professores, acompanhamento constante da aluna e diálogo com seus pais.
“Não vou dizer que foi algo simples, porque foi novo para o nosso campus, tivemos algumas resistências. Ela conseguiu ver a grade disciplinar completa, com apoio também de uma professora de Atendimento Educacional Especializado, professora Zurildes Nunes. Foi uma questão de conjunto mesmo, de cada um ajudar o outro“, afirmou a coordenadora do Napne, Márcia Efigênia.
Elis Nogueira reforça o quanto a presença de Tâmara motivou tantos aprendizados. “Tivemos que buscar em outros institutos, para ter formação para os professores. Pensei no bem estar dela, aprendi metodologias ativas e a Direção de Ensino trouxe esses cursos para a gente trabalhar não só com ela, mas com todos os outros. Os professores começaram a entender o que eram aquelas metodologias e como os conteúdos poderiam ser abordados, porque ela não conseguia absorver 100% da disciplina, mas o que ela absorvia era bem trabalhado“, explicou.
Para Márcia, o aprendizado foi de todos. “A gente ganha muito mais por acolher eles. Me sinto realizada, ver o progresso do outro é maravilhoso. Sinto, de fato, que a gente abre caminhos. Nunca vamos estar 100% preparados. São pessoas, vivências, culturas diferentes, então quando a gente vai receber a pessoa com deficiência procuramos conhecer primeiro para saber como vai lidar. Vai ser sempre um desafio. Mas o bom é que todos nós estamos abertos a esse desafio, aí é que está a diferença“.
Novos voos
Os sonhos de Tâmara não pararam nessa conquista que é tão significativa. Ela já decidiu o que fazer como tecnóloga em Viticultura e Enologia: abrir uma loja especializada em vinhos em Juazeiro, onde também pretende elaborar geleias para comercializar.
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