O MDB sai de fininho da fábula da reeleição de Michel Temer e oferece a Henrique Meirelles dois meses para se firmar como um candidato viável ao Planalto. O primeiro desafio do ex-ministro da Fazenda será explicar os maus números produzidos pelo triunfalismo econômico do governo. A esperança de Meirelles de chegar a 2018 navegando nas águas da prosperidade bateu no iceberg do desemprego.
Há
dois anos, a agenda do governo Temer girava em torno de Meirelles. Sabia-se que
ela resultaria em qualquer coisa, menos em popularidade. A equipe econômica
prometia austeridade e reformas. Dizia-se, contudo, que a recompensa viria na
sucessão, na forma de um pujante crescimento econômico. Hoje, há sobre a mesa
ruína fiscal e desemprego. E a previsão do PIB de 2018, que era de 3%, foi
revisada. Para baixo.
O
rigor fiscal sumiu no ano passado, quando o Planalto teve de comprar —com
dinheiro de emendas, favores tributários e benesses ilimitadas— o apoio para
congelar na Câmara duas denúncias criminais contra Temer. A mexida na
Previdência, mãe das reformas, foi trocada por outra prioridade de Temer: não
cair. E o crescimento será insuficiente para recuperar a ruína de Dilma
Rousseff.
A
efervescência do dólar incomoda. Fez o Banco Central interromper a sequência de
podas na taxa de juros após uma dúzia de quedas sucessivas. A oscilação no
preço internacional do petróleo, cujas altas são repassadas quase que em tempo
real para as bombas, inferniza o consumidor e deixa o governo zonzo. Mas nada
se compara ao desastre que infelicita o mercado de trabalho.
Além
de sofrer com a radiação da amoralidade impopular de Temer, Meirelles entra na
campanha arrastando as correntes das estatísticas do IBGE. Elas revelam um
drama em quatro camadas. A primeira, mais visível, exibe 13,7 milhões de
pessoas à procura de um emprego.
Na
segunda faixa, há 6,2 milhões de brasileiros vivendo de bicos e quebra-galhos
enquanto procuram por uma colocação melhor. Na terceira camada, há uma legião
de 4,6 milhões de criaturas que, tomadas pelo desalento, desistiram brigar por
um contracheque. Na última faixa, há 3,2 milhões de esforçados que não podem
trabalhar —mães que não têm onde deixar os filhos, por exemplo.
Quer
dizer: Meirelles vai à sorte dos votos com o peso dos 70% de reprovação de
Temer sobre os ombros e com as correntes do IBGE amarradas no tornozelo. Há na
praça pelo menos 27,7 milhões de eleitores desempregados, subempregados,
desalentados e desafortunados que não têm grandes estímulos para votar em
alguém que fala sobre o futuro sem entregar no presente a prosperidade que
prometera há dois anos. Por Josias de Sousa








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